sexta-feira, outubro 08, 2010

A porta do Coração



Feia ou bonita, que importa
Se nos assalta a paixão
Por quem nos sabe vencer,
O coração tem uma porta
E a porta do coração
Abre-se às vezes sem querer!

Cruzei um dia na vida
Com um olhar tanto a preceito
Que me toldou a presença,
Ela não pediu guarida
Mas bateu com tanto jeito
Que entrou sem eu dar licença!

O amor é um imprevisto
Faz-nos rir, faz-nos chorar
Faz-nos sofrer e sentir,
O meu coração tem disto
Às vezes quero-o fechar
Mas ele teima em abrir!

Que importa o riso, a traição
Quem ama tudo suporta
O resto não tem valor,
Só quem não tem coração
É que não tem uma porta
P'ra dar entrada ao amor!

Carlos Conde

terça-feira, fevereiro 02, 2010

Mário Crespo

Era só uma questão de tempo.
Mário Crespo incomoda.
A lucidez incomoda.
Urge difamar, deturpar, suprimir, aniquilar quem denuncia a podridão instituída.
O poder económico é a nova censura.
O novo estado novo não tem pudores.
A prepotência já não se esconde.

E para esses adjectivadores calhordas que vilipendiam, também me autorizo atribuir alguns, como CRÁPULAS, PIDESCOS, FASCISTAS, IGNÓBEIS.

E permito-me transcrever o texto CENSURADO de Mário Crespo:





O Fim da Linha
Mário Crespo

Terça-feira dia 26 de Janeiro. Dia de Orçamento. O Primeiro-ministro José Sócrates, o Ministro de Estado Pedro Silva Pereira, o Ministro de Assuntos Parlamentares, Jorge Lacão e um executivo de televisão encontraram-se à hora do almoço no restaurante de um hotel em Lisboa. Fui o epicentro da parte mais colérica de uma conversa claramente ouvida nas mesas em redor. Sem fazerem recato, fui publicamente referenciado como sendo mentalmente débil ("um louco") a necessitar de ("ir para o manicómio"). Fui descrito como "um profissional impreparado". Que injustiça. Eu, que dei aulas na Independente. A defunta alma mater de tanto saber em Portugal. Definiram-me como "um problema" que teria que ter "solução". Houve, no restaurante, quem ficasse incomodado com a conversa e me tivesse feito chegar um registo. É fidedigno. Confirmei-o. Uma das minhas fontes para o aval da legitimidade do episódio comentou (por escrito): "(...) o PM tem qualidades e defeitos, entre os quais se inclui uma certa dificuldade para conviver com o jornalismo livre (...)". É banal um jornalista cair no desagrado do poder. Há um grau de adversariedade que é essencial para fazer funcionar o sistema de colheita, retrato e análise da informação que circula num Estado. Sem essa dialéctica só há monólogos. Sem esse confronto só há Yes-Men cabeceando em redor de líderes do momento dizendo yes-coisas, seja qual for o absurdo que sejam chamados a validar. Sem contraditório os líderes ficam sem saber quem são, no meio das realidades construídas pelos bajuladores pagos. Isto é mau para qualquer sociedade. Em sociedades saudáveis os contraditórios são tidos em conta. Executivos saudáveis procuram-nos e distanciam-se dos executores acríticos venerandos e obrigados. Nas comunidades insalubres e nas lideranças decadentes os contraditórios são considerados ofensas, ultrajes e produtos de demência. Os críticos passam a ser "um problema" que exige "solução". Portugal, com José Sócrates, Pedro Silva Pereira, Jorge Lacão e com o executivo de TV que os ouviu sem contraditar, tornou-se numa sociedade insalubre. Em 2010 o Primeiro-ministro já não tem tantos "problemas" nos media como tinha em 2009. O "problema" Manuela Moura Guedes desapareceu. O problema José Eduardo Moniz foi "solucionado". O Jornal de Sexta da TVI passou a ser um jornal à sexta-feira e deixou de ser "um problema". Foi-se o "problema" que era o Director do Público. Agora, que o "problema" Marcelo Rebelo de Sousa começou a ser resolvido na RTP, o Primeiro Ministro de Portugal, o Ministro de Estado e o Ministro dos Assuntos Parlamentares que tem a tutela da comunicação social abordam com um experiente executivo de TV, em dia de Orçamento, mais "um problema que tem que ser solucionado". Eu. Que pervertido sentido de Estado. Que perigosa palhaçada.